Inovação e tendências consolidadas em um edifício misto na Holanda

* Por Lisandra Mascotto

Sempre em busca de novidades para o mercado da arquitetura corporativa, estive na Holanda recentemente e visitei um complexo muito interessante: The Valley Building Amsterdam. Hoje vamos esmiuçar as curiosidades e especificidades desse edifício de 75 mil metros quadrados que chama muita atenção no bairro Zuidar, no meio da capital holandesa.

O visual da construção já é encantador. Com andares desencontrados, ele deixa de lado a aparência linear dos edifícios comuns para trazer uma fachada desconectada onde praticamente todos os andares conseguem ter incidência direta de luz solar. Aliás, vamos aproveitar esse momento para falar da imersão de natureza que essa construção promove.

Além da luminosidade natural que comentei acima, os terraços trazem consigo muita vida em forma de vegetação. Muitos chamam o espaço de “vale verde vertical”. O responsável pelo projeto paisagístico foi Piet Oudolf e, segundo o portal www.zuidas.nl, o complexo reúne 370 floreiras com mais de 200 espécies diferentes de plantas e árvores.

E, como não poderia deixar de ser, se há tanta vegetação, há uma preocupação com a fauna local que possa ser atraída. Para tal, o espaço também conta com casas de pássaros e de morcegos e instalações para abelhas e insetos. Todos esses animais citados têm um papel muito importante na preservação do ecossistema. Aqui, então, mais um ponto de sustentabilidade incrível do local.

O prédio foi entregue em meados de 2021 com os jardins nas varandas já prontos. Ou seja, quem adquiriu um espaço não precisou se preocupar. Já habitou o imóvel com muito verde agradável compondo o seu terraço ao ar livre. Além disso, há uma expectativa sobre como estará o visual externo do edifício quando essas plantas se tornarem mais amplas e visíveis.

Falando nos habitantes, o The Valley Building é composto por três torres que se dividem entre apartamentos residenciais, salas comerciais, lojas, estacionamento, restaurantes e instalações culturais. Um exemplo perfeito do que chamamos de edifício de uso misto. A explicação, disposta no portal oficial da construção, é que se trata de um lugar onde as pessoas realmente podem viver, trabalhar e aproveitar a vida na cidade. O equilíbrio tão desejado entre a vida pessoal e a vida profissional.

Enquanto um lado é desencontrado com sacadas desalinhadas para que todos os andares possam aproveitar o sol e o vento, o lado oposto tem mais cara de prédio corporativo, justamente por ser revestido por uma pele de vidro. Algo bastante comum para quem vive em megalópoles como São Paulo. Há quem não goste dessa discrepância entre um lado e o outro, mas não há como negar que é disruptivo.

Como o visitei agora, em 2023, tive a oportunidade de visualizar toda essa estrutura por dentro, que, de fato, é muito mais comum do que o que vemos por fora. Conferi, inclusive, alguns escritórios que estavam sendo planejados no local e pude notar muitos tons terrosos – que combinam com a vertente altamente biofílica do edifício -, opção por mobiliário de madeira natural ou tons amadeirados nos revestimentos, formas mais orgânicas nos tampos das bancadas e até mesmo nas estruturas de sustentação dos andares, espaços colaborativos e coletivos montados com sofás para reuniões mais informais e lockers, e muita iluminação natural pela opção de janelas amplas.

Confira algumas fotos de escritórios que estavam sendo montados:

Visitar o The Valley Building em Amsterdam me fez refletir em várias questões que reúnem, não apenas as tendências atuais de arquitetura corporativa, mas dizem respeito à vida como um todo. Destaco o que mais me impactou:

• Como é importante sairmos do convencional, pensarmos “fora da caixa” para criar algo realmente novo.
• Importante refletirmos sobre os tipos de inovações que estão acontecendo no mundo e que estarão cada vez mais presentes em nossas vidas.
• Para a sustentabilidade do planeta, é fundamental essa visão de ecossistema. De que não existe apenas o ser humano e sim uma diversidade de seres vivos que são fundamentais para a manutenção da vida na Terra.
• A inteligência humana é capaz de feitos incríveis quando direcionada para algo com um propósito bem definido.
• As pessoas estão buscando cada vez mais qualidade de vida nos ecossistemas onde vivem e o conceito de edifício misto está atendendo essa demanda.
• A linha entre trabalho e vida pessoal se tornou muito tênue, mostrando que na verdade tudo se compõe na vida das pessoas, e o anseio é pelo bem-estar em todos os sentidos.

Ter a chance de visitar um lugar que é tão inovador e que, ao mesmo tempo, reflete algumas questões das quais acredito pessoalmente foi bem gratificante. Espero que vocês tenham gostado!

* Lisandra Mascotto, da RS Design, é especialista em mobiliário corporativo, tem mais de 25 anos de experiência no segmento e atua com conceitos que estimulam conexões entre as pessoas, por meio do mobiliário, colaborando em projetos corporativos humanizados e funcionais.