*por Lisandra Mascotto
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Na minha última viagem à Basel, na Suíça, uma cidade que respira design em cada esquina, tive a oportunidade de visitar o novo Campus da Novartis, um conjunto arquitetônico que já nasce com aquela aura de “referência global”. Não é exagero chamar Basel de capital do design; ali, tudo parece ser pensado com um olhar quase obsessivo por estética, função e impacto.
O campus da Novartis segue exatamente essa linha: prédios assinados por grandes nomes, formas geométricas ousadas e um urbanismo que mistura inovação com aquela precisão suíça que impressiona.

Antes mesmo de entrar nos edifícios corporativos, um dos pontos que mais chamou minha atenção foi o Centro de Convenções do campus. Ali, a tecnologia não é apenas suporte, ela é protagonista. O espaço foi claramente projetado para transmitir a ideia de que inovação e ciência andam lado a lado. Telões integrados, sistemas quase invisíveis de projeção, automação que ajusta luz e temperatura. Toda uma infraestrutura híbrida, pensada para conexões globais, que ajuda a criar a sensação de que tudo flui com naturalidade.
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A impressão que fica é que a empresa quis mostrar que tecnologia pode ser elegante, discreta e muito funcional ao mesmo tempo, criando um ambiente preparado para decisões rápidas e trocas de conhecimento de alto nível.
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Mas quando visito um prédio corporativo, minha curiosidade é sempre outra: como as pessoas vivem e trabalham por dentro de tudo isso? Afinal, a beleza externa é só uma parte da história.
Iluminação: o primeiro convite ao bem-estar
Ao entrar nos edifícios, a primeira coisa que me chamou atenção foi a quantidade de luz natural. Grandes panos de vidro e fachadas inteligentes deixam a luz do sol iluminar praticamente todos os ambientes. Isso faz maravilhas para o humor e para a produtividade, porque nada substitui a sensação de trabalhar com luz real.

Ao mesmo tempo, percebi algo curioso. Em alguns espaços, o excesso de luminosidade sem controle adequado pode gerar reflexos e uma sensação de cansaço visual no fim do dia. São pequenos detalhes que mostram como o “muito bom” pode virar “um pouco demais”, dependendo da atividade que se exerce no local. Essa é uma percepção pessoal, fruto do meu olhar que está sempre buscando o equilíbrio entre o bem-estar e a funcionalidade nos ambientes.

Acústica: onde está o limite entre colaboração e barulho?
A acústica é sempre um ponto delicado em ambientes corporativos modernos, especialmente nos que abraçam espaços abertos. No campus da Novartis, notei um esforço verdadeiro para equilibrar isso. Materiais porosos, divisórias bem posicionadas, mobiliário com tecidos absorventes e áreas de circulação pensadas para não criar aquele efeito de eco.

Ainda assim, há um ponto a ressaltar. Quando a arquitetura interna é muito rica em elementos, texturas e estímulos visuais, o ambiente tende a gerar mais dispersão. Essa é uma observação pessoal, reforçada por algumas críticas que encontrei de especialistas que também apontam essa questão. E quando o olhar não descansa, a mente também não descansa.
Mobiliário: estética e ergonomia, mas com espaço para ajustes
Já em outro prédio que visitei dentro do complexo, notei que o mobiliário segue uma linha clean, funcional e modular. Mesas ajustáveis, cadeiras ergonômicas, áreas de soft seating e espaços multifuncionais criam uma sensação de fluidez. A ideia é clara: dar liberdade para que as pessoas escolham como querem trabalhar ao longo do dia.
Mesmo assim, senti que algumas áreas priorizam mais a estética do que a ergonomia. São ambientes lindos, sofisticados, quase cenográficos, mas que talvez não entreguem o conforto ideal para longas horas de trabalho. Falta, em alguns cantos, aquele toque de realidade que entende o corpo humano e suas necessidades variadas.

O desafio neurodiverso: a tendência mais urgente no mundo corporativo
Uma coisa que sempre defendo e que ficou ainda mais evidente nessa visita é que escritórios precisam ser projetados para pessoas neurodiversas, e não para um colaborador padrão que não existe. Cada pessoa trabalha de um jeito diferente. Algumas precisam de silêncio total, outras de movimento ao redor. Algumas se inspiram com estímulos visuais, outras precisam de ambientes mais neutros. Algumas focam melhor quando estão em áreas isoladas, outras precisam alternar estímulos.
Mesmo em prédios supermodernos como esses, ainda vejo pouca atenção profunda a isso. Arquitetura sustentável, fachadas inteligentes e projetos de design premiados são incríveis, mas a experiência interna precisa ser radicalmente confortável. Precisa respeitar ritmos, comportamentos, personalidades e diferentes formas de pensar.
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E esse é justamente o objetivo das minhas visitas: analisar tendências, observar o que funciona, entender o que ainda não funciona e trazer para o Brasil ideias que realmente façam diferença na vida das pessoas que trabalham em ambientes corporativos.
Basel e o novo Campus da Novartis são inspiradores para quem ama design, inovação e arquitetura. Mas também nos lembram que o verdadeiro futuro do trabalho não está só nas fachadas impressionantes; ele está nos pequenos detalhes invisíveis que determinam conforto, foco, produtividade e saúde mental. É ali, no dia a dia, que a arquitetura realmente precisa funcionar.
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Sigo explorando cada canto, cada solução, cada acerto e cada detalhe que pode ser melhorado. Porque são nesses detalhes que nascem as melhores ideias para a criação de ambientes corporativos que funcionem de verdade.